Amazônia registra maior número de queimadas em 17 anos

Relatos de agricultores e brigadistas expõem a gravidade dos incêndios florestais, com aumento de 43% nos focos de calor em relação ao ano passado.

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A frase de Francisco Wataru Sakaguchi, agricultor de Tomé-Açu, no nordeste da Amazônia paraense, dá o tom do impacto causado pelas queimadas e incêndios florestais em 2024. “Já vi situações extremas, mas eu nunca tinha visto nada tão forte quanto agora”, afirmou o agricultor, que teve que cancelar uma palestra em Manaus para proteger sua propriedade das chamas. Embora ele tenha conseguido conter o fogo, muitos vizinhos não tiveram a mesma sorte.

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“Muita gente perdeu tudo. A gente presencia o desespero das pessoas, perguntando o que vai ser da vida delas dali para frente. E tudo o que podemos fazer é dar um apoio moral”, disse Sakaguchi, em vídeo enviado para a TEDxAmazônia.

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Números alarmantes

Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a Amazônia teve o maior número de focos de calor dos últimos 17 anos. Até o início de dezembro foram registrados 137.538 focos, um aumento de 43% em relação a 2023. O bioma Amazônia concentrou 50,6% dos focos de calor do país, seguido pelo Cerrado (29,6%), Mata Atlântica (7,7%), Caatinga (6,5%), Pantanal (5,3%) e Pampa (0,2%).

O engenheiro Alexandre Tetto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explicou que as condições climáticas em 2024 favoreceram a propagação do fogo. “Maior disponibilidade de material inflamável, temperaturas elevadas, umidade relativa baixa, ventos intensos e estiagem prolongada criaram um cenário propício”, afirmou.

Pará lidera em focos de calor

O estado do Pará registrou 54.561 focos de calor, sendo os municípios de São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso os mais impactados. Nas últimas semanas, Santarém ganhou destaque pelos altos índices de poluição do ar e foi decretada situação de emergência ambiental. Dados do Ministério Público Federal revelaram que, em 24 de novembro, a concentração de poluentes em Santarém foi 42,8 vezes superior à diretriz anual da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O trabalho dos brigadistas

Daniel Gutierrez, brigadista voluntário de Alter do Chão, relatou o aumento significativo das queimadas. “Este ano foi muito pior. A fumaça intensa que presenciamos nos últimos meses foi algo sem precedentes”, afirmou. Ele destacou a necessidade de aprimorar as investigações sobre as causas, uma vez que a maioria dos focos é provocada por ação humana.

Iniciativas de combate

A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Pará informou que o combate às queimadas foi intensificado, com a mobilização de 120 bombeiros, reforço de viaturas e helicópteros, além de monitoramento em tempo real via satélite. O Ministério do Meio Ambiente destacou que mais de 1.700 profissionais foram mobilizados em ações de combate aos incêndios em 2024, com a criação de uma comissão interministerial para prevenção e controle do desmatamento.

Tempo de extremos

O agricultor Francisco Sakaguchi relatou que, em Tomé-Açu, o cenário deste ano foi marcado por eventos climáticos extremos, incluindo uma seca de 150 dias. “Nunca vi o meu lago secar ou o açaizeiro morrer pela seca. Este ano foi um marco de extremos”, lamentou.

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