Mesmo com a regulamentação em vigor desde janeiro deste ano, o interesse dos brasileiros por apostas online segue em alta. Segundo o secretário-executivo do Banco Central (BC), Rogério Lucca, os apostadores destinaram entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês às plataformas de apostas esportivas nos três primeiros meses de 2025. A informação foi divulgada nesta terça-feira (8), durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets no Senado.
De acordo com Lucca, antes da regulamentação, o BC já estimava um fluxo médio mensal de R$ 20 bilhões. “Durante este ano, de janeiro a março, o valor que a gente acompanha para efeito de atividade gira em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês, ratificando o que a gente tinha estimado no fim do ano passado”, afirmou.
A análise foi possível porque, após a regulação, as casas de apostas passaram a ser obrigadas a manter contas bancárias com uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica. Apesar disso, o BC informou que os dados obtidos são para uso interno e não serão divulgados regularmente.
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Divergência nos dados sobre prêmios
Grande parte do dinheiro apostado retorna aos jogadores na forma de prêmios, mas há discrepâncias entre os dados da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), ligada ao Ministério da Fazenda, e o BC. Segundo o presidente do BC, Gabriel Galípolo, a SPA registra que entre 93% e 94% do valor apostado é devolvido em prêmios. Já um relatório preliminar do BC, publicado no ano passado, apontava um retorno de cerca de 85%.
Limitações de atuação do Banco Central
Durante o depoimento, Galípolo destacou que o Banco Central não possui autoridade legal para fiscalizar ou bloquear transações de sites de apostas não autorizados. Essa responsabilidade cabe à SPA, que precisa notificar o BC quando alguma plataforma estiver operando de forma irregular. A partir dessa notificação, as instituições financeiras são orientadas a interromper as transações com essas empresas.
“O Banco Central, uma vez informado pela SPA, vai dizer para a instituição financeira: ‘você tem aí empresas para observar nos seus procedimentos e, a partir de agora, não autorizar mais’. Não é o Banco Central que interrompe a transação diretamente”, explicou Galípolo.
O BC também atua na prevenção à lavagem de dinheiro e no combate ao financiamento do terrorismo, com a responsabilidade de repassar movimentações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ao Ministério Público e à Polícia Federal.
Sigilo bancário e Bolsa Família
Questionado sobre a possibilidade de bloquear o Pix de beneficiários do Bolsa Família que apostam em bets, Galípolo afirmou que o BC está legalmente impedido de fazê-lo devido ao sigilo bancário. Ele ressaltou que o órgão não pode interferir diretamente nas chaves Pix de casas de apostas que eventualmente recebam recursos do programa social.
Ainda assim, Galípolo se comprometeu a colaborar com o Tribunal de Contas da União (TCU) para fornecer informações pertinentes às investigações sobre o uso do benefício em apostas.
Segundo o presidente do BC, dados internos indicam que apostadores online apresentam risco de crédito mais elevado que não apostadores, o que leva os bancos a cobrarem juros mais altos desses clientes.
CPI das Bets
Instalada em novembro do ano passado, a CPI das Bets investiga o impacto das apostas eletrônicas no orçamento das famílias brasileiras, no sistema financeiro e suas possíveis ligações com organizações criminosas. A comissão é presidida pelo senador Dr. Hiran (PP-RR) e tem como relatora a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), autora do requerimento que deu origem à investigação.