Povos indígenas do Ceará desenvolvem estratégias de combate à degradação ambiental em territórios

Com seus saberes ancestrais, os povos indígenas do Ceará vêm ajudando a ampliar a diversidade da fauna e da flora e combatendo a desertificação em seus territórios.

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Na semana em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, os indígenas Gleidson Karão Jaguaribaras, Nazaré Pitaguary e Mateus Tremembé compartilham suas experiências à frente de ações para preservar o meio ambiente com a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), que através da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Ceppir) vem formulando e implementado no Ceará ações de enfrentamento e combate à discriminação racial de indivíduos e grupos étnicos, com ênfase nas comunidades quilombolas, indígenas, religiões de matriz africana, cultura cigana e demais comunidades tradicionais.

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Atualmente, o Ceará tem 15 povos de diferentes etnias, contabilizando cerca de 36 mil pessoas nas regiões de serra, sertão e zona costeira.

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No território entre Aratuba e Canindé, o povo Karão Jaguaribaras vem realizando a recuperação das áreas florestais degradadas. Esse processo de recuperação ambiental é uma iniciativa do próprio Kalembre (Aldeia) e iniciou ainda em 2012, conta Gleidson, filho da cacique Mãe Ota.

“Estamos fazendo coletas de sementes nativas, começamos a pedir doações de sementes e mudas nos municípios vizinhos e com o auxílio do Projeto Fundo Guardiões da Terra construímos uma estufa para brotar sementes durante o verão e plantar no inverno. Estamos usando dos saberes ancestrais como estratégia de preservação e combate à desertificação, uma vez que nos reunimos para trabalhar diretamente com a terra. Seguimos calendários cosmológicos repassados pelos nossos troncos velhos, este contribui bastante para educar nossas Boré (crianças) e jovens mediante ao processo de se dar com a terra”, explica.

Ele lembra que a questão ambiental é uma das maiores preocupações do Kalembre, pelo fato de que o processo de desertificação tornam a região vulnerável à seca, causando prejuízos diretos na subsistência local. “Para os Karão Jaguaribaras manter esses ensinamentos faz parte de nossa existência. O mal uso de nossa Terra vem causando impactos de perda em massa de seres importantes para o equilíbrio natural, como animais e plantas medicinais. Proteger e respeitar a Mãe Terra é condição vital para nossa existência neste planeta”, frisa Gleidson.

Território e cultura alimentar do Povo Tremembé

Na Terra Indígena Tremembé da Barra do Mundaú, no distrito de Marinheiros, município de Itapipoca, também tem ações de preservação do meio ambiente. Organizado em quatro aldeias – São José, Munguba, Buriti do Meio e Buriti de Baixo – o território tem atualmente 150 famílias que participam e se beneficiam das ações de conservação e preservação dos recursos naturais.

Foto: Luan de Castro Tremembé

O produtor cultural do ponto de cultura Recanto dos Encantados, Mateus Tremembé, estuda Agronomia e é uma das lideranças indígenas jovem de Itapipoca, além de pesquisador em cultura alimentar Tremembé. Segundo ele, o Conselho Indígena Tremembé vem realizando um trabalho de conservação e preservação dos recursos naturais do território, sobretudo, das peças nativas. “Estamos em processo de transição agroecológica com os nossos agricultores e também trabalhando com a juventude para resgatar a nossa cultura alimentar e os saberes da nossa cultura ancestral. Estamos fortalecendo a agroecologia e os sistemas de produção do nosso povo”, destaca Mateus.

Foram construídos 30 canteiros agroecológicos, duas áreas de nascente foram reflorestadas com diversas mudas e as áreas de plantio coletivo vêm sendo fortalecidas para que sigam sendo espaços onde os cuidados com a terra geram alimentos na mesa do povo Tremembé.

Mateus ressalta que será lançado ainda esta semana o Inventário Participativo da Cultura Alimentar Tremembé da Barra do Mundaú, um apanhado sobre os costumes e tradições do povo Tremembé.

Horta mandala e agricultura familiar em território Pitaguary

Em Maracanaú, um território mais próximo da Capital, dona Nazaré Pitaguary levanta também a frente pelo meio ambiente e é uma das principais incentivadoras dos espaços de plantio coletivo, trabalhando com a horta mandala, uma estrutura de produção que se expande em círculos com cultivo de diversas plantas. Este modelo de plantação proporciona alimento para as famílias e gera excedentes para a comercialização.

Integrante da Articulação das Mulheres Indígenas no Ceará (Amice), Nazaré tem no nome que carrega, sua força. Ser Pitaguary significa muito para ela, que além de mãe de quatro filhos é militante e acredita que mesmo com dificuldades é possível cuidar da terra e tirar dela os alimentos de que se precisa sem desperdício e sem poluir o solo.

Desde 2010, Nazaré Pitaguary, a Nazinha, incentiva a agricultura familiar dentro da sua comunidade. “Tivemos algumas dificuldades no ano passado e neste ano porque choveu bastante e as hortas se encheram de água. Agora estamos esperando as águas baixarem para voltarmos à prática com as hortaliças. Queremos trazer mudas de plantas nativas para plantar próximo ao rio e queremos, em breve, construir uma barreira para proteger os canteiros e termos uma colheita garantida”, ressalta Nazaré Pitaguary, que junto às outras famílias da comunidade planta coentro, cebolinha, alface, pimenta, pimentão e outros.

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Além do trabalho com as hortaliças, as famílias do povo pitaguary de Maracanaú participam de um programa de Agricultura familiar (PAA), e as frutas, acerola, limão, goiaba e ata também são vendidas para a prefeitura do município.

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