O Tribunal do Júri de Curitiba condenou nesta quinta-feira (13) o ex-policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho a 20 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado. Ele foi considerado culpado pelo assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu e guarda municipal. A pena deverá ser cumprida inicialmente em regime fechado.
As qualificadoras do crime foram motivo torpe, devido à discussão política, e produção de perigo comum, por ter colocado outras pessoas em risco. A defesa anunciou que irá recorrer da decisão por considerar a pena elevada.
A sentença foi lida por volta das 14h pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, que presidiu o júri composto por quatro mulheres e três homens. Durante a leitura, a magistrada destacou a intolerância política e a repercussão social do crime, além de ressaltar que o homicídio foi cometido com uma arma da União.
Veja também
O crime
O assassinato ocorreu em 9 de julho de 2022, meses antes da eleição presidencial. Na ocasião, Marcelo Arruda comemorava seus 50 anos com uma festa que tinha como tema o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guaranho foi ao local e efetuou disparos contra a vítima.
O caso tornou-se emblemático devido à polarização política que marcou aquele período eleitoral. O Ministério Público do Paraná sustentou desde o início que o crime teve motivação política, tese que a defesa tentou refutar, alegando que Guaranho não possuía animosidade contra o PT.
Versão da defesa
Em depoimento na quarta-feira (12), Guaranho falou pela primeira vez sobre o caso. Ele chegou ao tribunal de muletas e declarou ter agido em legítima defesa, alegando que se não tivesse atirado primeiro, seria alvejado por Arruda. Segundo sua versão, ele foi à festa para provocar, mas negou ter intencionalidade de cometer o assassinato. O depoimento não foi gravado nem fotografado, e o ex-policial se recusou a responder perguntas da acusação.
De acordo com o inquérito policial, Guaranho foi duas vezes ao local da festa. Na primeira, passou de carro com o som alto tocando músicas de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro, o que gerou uma discussão com Arruda. O guarda municipal respondeu jogando terra no veículo de Guaranho, que saiu do local, deixou a família em casa e retornou armado, efetuando três disparos contra a vítima.
Câmeras de segurança registraram parte da ação. Arruda, atingido por dois tiros, ainda conseguiu sacar sua arma e revidar com seis disparos, atingindo Guaranho na cabeça. O tesoureiro do PT foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos, falecendo na madrugada do dia seguinte.
A defesa argumentou que Arruda teria sacado a arma primeiro, mas o júri considerou a versão do Ministério Público, segundo a qual Guaranho foi o agressor inicial.
Consequências e prisão imediata
Em resposta ao crime, o Paraná sancionou uma lei instituindo o dia 9 de julho como o “Dia Estadual contra a Intolerância Política e de Promoção da Tolerância Democrática”.
Embora ainda possa recorrer da condenação, Guaranho teve a prisão imediata determinada pela Justiça. Ele cumpria prisão domiciliar desde setembro de 2023, após um habeas corpus concedido pela segunda instância, mas agora será transferido para uma unidade prisional no Paraná.