Em um relatório entregue à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apresentou informações reveladoras sobre as movimentações financeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro nos seis primeiros meses deste ano. De acordo com o documento, Bolsonaro recebeu R$ 17,5 milhões via Pix nesse período, em um total de 769 mil transações registradas entre 1º de janeiro e 4 de julho. O Coaf classifica essas movimentações como atípicas e suspeita que os recursos tenham sido utilizados para pagar multas judiciais recebidas pelo ex-presidente, além de parte do valor ter sido convertido em aplicações financeiras.
As informações contidas no relatório foram inicialmente divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo e posteriormente confirmadas pela TV Brasil. Dentre os remetentes dos valores, o documento lista nomes de empresários, militares, agricultores e advogados. Além disso, pelo menos 18 pessoas enviaram valores que variam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil. Destaca-se também que o partido do ex-presidente, o PL, realizou duas operações de transferência no montante de quase R$ 48 mil.
A suspeita levantada pelo Coaf se estende também para o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que está sob custódia desde o início de maio. Segundo o relatório, suas contas bancárias apresentaram uma movimentação de quase R$ 4 milhões entre julho do ano passado e maio deste ano. A quantia chamou a atenção por ser incompatível com sua renda oficial de R$ 26 mil, levando a CPMI do Golpe a aprovar a quebra dos sigilos bancário e fiscal do militar. Entre as transações analisadas, destacou-se uma ordem de pagamento para os Estados Unidos no valor de R$ 368 mil, realizada em janeiro, enquanto Bolsonaro estava no país.
A defesa de Mauro Cid alega que todas as movimentações financeiras, inclusive as internacionais, são lícitas e foram devidamente esclarecidas à Polícia Federal. Já a defesa de Jair Bolsonaro classificou a divulgação das informações bancárias do ex-presidente como uma “inaceitável” e “criminosa” violação de sigilo bancário. Segundo seus advogados, os valores recebidos por Bolsonaro têm origem absolutamente lícita, sendo provenientes de doações feitas por seus apoiadores.
O relatório do Coaf e as movimentações atípicas envolvendo o ex-presidente levantam questionamentos sobre a utilização do sistema Pix para grandes transações financeiras e alimentam a discussão sobre a transparência nas doações políticas e a possibilidade de lavagem de dinheiro. A CPMI seguirá investigando o caso para esclarecer a origem e a legalidade desses recursos e suas implicações.