Desde a Revolução Industrial, a emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), tem crescido exponencialmente, impulsionando a crise climática que enfrentamos atualmente, marcada por eventos climáticos extremos. Conscientes da urgência em enfrentar essa crise, cientistas, sociedades e governos têm se mobilizado em encontros sobre o clima, desde a Eco 92 no Rio de Janeiro até o Acordo de Paris em 2015.
O Acordo de Paris, um marco na luta contra o aquecimento global, comprometeu 195 países a limitar o aumento da temperatura global “em bem menos de 2º C acima dos níveis pré-industriais”. O Brasil, por sua vez, assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 43% até 2030 em relação aos níveis de 2005.
Nesse contexto, o mercado de carbono emerge como uma ferramenta crucial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Mas como exatamente esse mercado funciona?
Segundo o pesquisador Shigueo Watanabe Jr, do Instituto Talanoa, o mercado de carbono incentiva as indústrias a substituir equipamentos que emitem uma grande quantidade de carbono por máquinas mais eficientes em termos de emissões ou não emissoras de carbono. O Instituto Talanoa faz parte do Observatório do Clima e dedica-se a questões relacionadas às mudanças climáticas.
“Eu quero que alguém troque sua caldeira a gás por uma caldeira elétrica. Mas ninguém é bonzinho. Então, a ideia do mercado de carbono é começar a cobrar pelas emissões de gases da maneira que esse preço vai subindo até que o industrial vai olhar e ver que está pagando mais pela emissão de carbono do que ele pagaria por uma caldeira nova”, explicou Watanabe.
O mercado de carbono estabelece cotas para a emissão de gases do efeito estufa. Aqueles que emitem menos do que o permitido ganham créditos, que podem ser vendidos para empresas que excederam suas metas de emissão.
Watanabe ressalta que a venda de créditos de carbono visa incentivar as indústrias a reduzirem as emissões para lucrar. “Quem for mais eficiente e sair na frente vai ser mais barato porque ele vai poder ganhar um pouco de dinheiro com isso. O custo da transição energética toda acaba saindo mais barato para a sociedade”, destacou.
Existem dois tipos de mercado de carbono: o voluntário, que depende da iniciativa das empresas, e o regulado, imposto por decisão dos Estados nacionais e considerado mais eficiente.
No entanto, recentemente, a Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou um projeto que cria o mercado de carbono regulado no Brasil, excluindo a agropecuária das regras. Isso gerou críticas de ambientalistas, dado que a pecuária é responsável por 25% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com estudo da consultoria legislativa da Câmara dos Deputados.
O pesquisador do Instituto Talanoa argumentou que esses setores não estão incluídos nos mercados de carbono regulados pelo mundo. No caso da pecuária, ele afirmou que não há como reduzir substancialmente as emissões sem diminuir o tamanho do rebanho.
Sobre a agricultura, Watanabe explicou que o setor emite carbono principalmente devido à aplicação de fertilizantes fósseis e às plantações alagadas de arroz, comuns no Rio Grande do Sul. Nesses casos, ele defende a adoção de medidas específicas para transformar essas práticas.