A quadra chuvosa do Ceará, entre fevereiro e maio, terminou acima da média em 2024. Segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o período teve um acumulado de 764 milímetros (mm) no estado cearense, com desvio positivo de 25,4% – sendo que o índice normal climatológico para o quadrimestre é de 609,2 mm. Porém, houve irregularidade nas precipitações, com concentração no norte do estado.
O meteorologista consultor climático e ex-diretor do Inmet, Francisco de Assis Diniz, afirma que o período de chuvas no estado do Ceará foi acima da normalidade esperada e explica como foi o fluxo da quadra chuvosa do Ceará de 2024.
“Então, elas começaram chovendo bem lá em fevereiro, mar se abriu, choveu bastante, né, choveu acima do normal, maio choveu relativamente assim também, umas áreas na parte norte acima do normal e na parte sul em torno da normalidade, e junho também choveu em torno da normalidade no geral”, pontua Francisco.
Apesar de chuvas acima do normal, a porção central do estado, como a macrorregião do Sertão Central e Inhamuns, atingiu relativa escassez. Em contrapartida, o litoral de Fortaleza teve 1.253,2 mm (51,2% acima da média). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital do estado, Fortaleza (CE), teve chuva e temperaturas acima da média em abril, com o total de chuva de 410,3 mm, sendo cerca de 6% acima do normal climatológico, que é de 385,0 mm.
As chuvas tiveram maior concentração no norte do estado e no início da quadra. Com isso, os meses de abril e maio apresentaram acumulados menos expressivos e outras áreas tiveram precipitações abaixo da normalidade.
A irregularidade das chuvas, concentradas na região norte do estado, impactaram negativamente na plantação de produtores rurais da região sul do Ceará. O morador da cidade de Penaforte, localizada no extremo sul do estado do Ceará, Manuel Fabrício Taveira, 33 anos, é produtor rural e trabalha junto com o pai na plantação de diversas culturas, como milho, feijão, mandioca e goiaba. O produtor cearense conta que, apesar de ter chovido bastante na região no mês de março, a precipitação não foi favorável para o plantio de milho, que deve começar no mês de janeiro.
“Aqui choveu bastante, mas foi fora da época dos nossos plantios. A gente espera chuva, geralmente, as primeiras chuvas, no finalzinho de dezembro. Nas primeiras chuvas a gente já começa a tomar as terras para plantar feijão. Veio começar a chover aqui, na verdade, em fevereiro, mas deu a chuvada, parou, quando veio começar mesmo foi em março, aí muita gente desacredita”, relata Manuel Fabrício Taveira que teve prejuízos com a irregularidade de chuvas.
O produtor cearense conta que perdeu uma plantação inteira de milho e a metade de outro plantio da mesma cultura, que foi pouco beneficiado pelas chuvas deste ano.
“De janeiro em diante a gente começa a plantar o milho. Aí este ano quando choveu foi em fevereiro. Aí choveu, deu uma parada, aí continuou bem, em março e abril. Mas aí a gente tinha que ter acreditado, plantou ainda, mas quando a gente plantou já era um pouco tarde. A gente vive da agricultura, tudo é difícil. Quando a gente tem uma perda assim tem um abalo grande”, conta Manuel.
Próximos meses
A partir deste mês, o estado do Ceará entra no período de estiagem, que vai até dezembro. “Mas dezembro, já começa a ter algumas chuvas lá na parte sul do Ceará”, afirma o meteorologista Francisco de Assis Diniz.
Apesar da estiagem, o meteorologista aponta que ainda chove na região do Cariri, devido à alta temperatura do oceano atlântico.
“Devido aos ventos transportando a umidade do oceano, o oceano atlântico ainda quente tem contribuído com algumas chuvas, ainda no interior do nordeste e às vezes até algumas chuvas, mesmo de maneira fraca, ainda estava pegando algumas chuvas ali na região do Cariri, devido à contribuição do oceano atlântico quente”, diz Francisco.