O Brasil se encontra em uma preocupante posição, ocupando o segundo lugar entre 37 países analisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em termos de proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham. Apenas a África do Sul supera o país nesse aspecto. O relatório “Education at a Glance”, de 2022, avaliou a educação em 34 países-membros da OCDE, além do Brasil, da África do Sul e da Argentina, e revelou que 36% dos jovens brasileiros estão nessa condição, o que os coloca em risco de distanciamento prolongado do mercado de trabalho.
Um exemplo desse cenário é Carlos Alberto Santos, de 18 anos, residente em Ferraz de Vasconcelos, região metropolitana de São Paulo. Mesmo com a conclusão do ensino médio e um curso técnico de administração, o jovem está há dez meses sem conseguir uma oportunidade de emprego. Apesar dos esforços e da busca por cursos complementares, Carlos Alberto sente-se inquieto com a falta de perspectiva. Ele faz parte do Projeto Quixote, em São Paulo, onde realizou os cursos “Empreendendo o Futuro” e “Vivendo o Futuro”, buscando adquirir as habilidades necessárias para se inserir no mercado de trabalho.
O problema de jovens sem estudar e sem trabalhar está intrinsecamente ligado à renda familiar, afetando principalmente os mais pobres. De acordo com a socióloga Camila Ikuta, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), é comum observar essa situação entre jovens de famílias de baixa renda, muitas vezes mulheres, que são obrigadas a deixar os estudos para assumir responsabilidades domésticas e familiares.
Um diagnóstico realizado pela Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego mostra que, dos 207 milhões de habitantes do Brasil, 17% são jovens de 14 a 24 anos. Desse grupo, 5,2 milhões estão desempregados, representando 55% do total de pessoas nessa situação no país, que chegam a 9,4 milhões. Além disso, 7,1 milhões de jovens brasileiros nem trabalham nem estudam, sendo a maioria mulheres com filhos pequenos e representantes da população negra.
A pandemia da COVID-19 agravou ainda mais a situação desses jovens, interrompendo sua educação e formação profissional. Segundo a economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Enid Rocha, essa interrupção prolongada pode deixar uma “cicatriz” profissional, levando os jovens a enfrentarem maiores desafios no mercado de trabalho quando retornam. Para especialistas, é essencial adotar políticas públicas focadas na juventude, incluindo o aumento de creches públicas, melhorias nos sistemas de qualificação e intermediação profissional, e ações que auxiliem as mulheres jovens a retornar aos estudos e ao mercado de trabalho.
Para reverter esse quadro, é necessário investir em busca ativa desses jovens desengajados, oferecendo-lhes oportunidades de escolarização, programas de aprendizagem em empresas e capacitação socioemocional. Políticas de permanência e assistência estudantil também são fundamentais para apoiar os jovens em suas trajetórias educacionais. Além disso, é preciso criar medidas que incentivem o primeiro emprego e proporcionem aos jovens formação acadêmica uma transição mais suave para o mercado de trabalho.
Enquanto a sociedade se mobiliza em busca de soluções para essa questão, jovens como Carlos Alberto Santos seguem batalhando e mantendo a esperança de construir um futuro melhor por meio da educação e do trabalho digno.