Um estudo realizado pelo Instituto Península, uma organização não governamental, revela um panorama preocupante da educação física no Brasil. A pesquisa, que envolveu mais de 3 mil professores de todo o país, entre outubro e novembro de 2023, constatou que a falta de estrutura adequada e a presença de bullying são desafios constantes nas aulas.
Infraestrutura precária limita o ensino
O levantamento aponta que 94,7% dos professores consideram que o espaço físico onde as aulas são ministradas precisa de melhorias. Quadras esportivas em mau estado, ausência de vestiários e falta de materiais básicos como bolas de diversos esportes são realidades frequentes nas escolas brasileiras.
Para driblar esses obstáculos, 51,9% dos professores relatam levar seus próprios materiais para as aulas, enquanto 50,9% improvisam e confeccionam o que precisam. Doações (16%) e a alternativa de realizar atividades sem materiais (14,6%) também são soluções precárias encontradas por alguns docentes. Em casos extremos, 11,1% dos professores são obrigados a levar seus alunos para fora da escola para realizar as aulas.
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A situação precária da infraestrutura e a escassez de materiais impactam diretamente na qualidade do ensino. “Isso significa que os professores não se sentem munidos das ferramentas necessárias para desenvolver seu trabalho de forma adequada. Além disso, a falta de espaço físico adequado também os limita”, afirma Daniela Kimi, do Instituto Península.
Bullying nas aulas: um problema preocupante
O estudo também revela que o bullying é uma realidade presente nas aulas de educação física, com 76,1% dos professores relatando ter presenciado casos de intimidação entre alunos. As principais motivações para o bullying são a habilidade técnica dos alunos (79,7%), mas também foram registradas agressões relacionadas à aparência (54,6%), gênero (28,8%) e sexualidade (23%).
Apesar da gravidade da situação, 21,4% dos professores que presenciaram bullying se mostraram despreparados para lidar com a situação. “É preocupante notar que o ambiente das aulas de educação física, que deveria ser um espaço de promoção da saúde e do bem-estar, pode se tornar um palco para a intimidação e o sofrimento dos alunos. É fundamental que os professores recebam a devida formação para lidar com essas situações”, ressalta Daniela Kimi.
Dificuldades na inclusão de meninas
Outro desafio apontado pela pesquisa é a dificuldade de incluir meninas nas aulas de educação física. 36,9% dos professores relataram ter problemas nesse sentido. Apesar disso, quando questionados sobre a necessidade de apoio para a inclusão das meninas, mais de 60% dos docentes (63,6%) responderam positivamente. “Esses dados indicam que existe uma grande demanda por apoio e formação nesse quesito”, complementa Daniela.
O que precisa ser feito?
Os resultados da pesquisa evidenciam a necessidade de investimentos urgentes na infraestrutura das escolas e na formação dos professores de educação física. É crucial garantir que os docentes disponham de espaços adequados e materiais necessários para o desenvolvimento de suas aulas, além de estarem preparados para lidar com situações de bullying e promover a inclusão de todos os alunos, independente de gênero ou qualquer outra característica.
A pesquisa também reforça a importância do diálogo entre pais, alunos, professores e gestores escolares para a construção de um ambiente escolar mais seguro, inclusivo e promotor da saúde física e mental de todos os estudantes.
Falta de resposta dos órgãos responsáveis
A reportagem da Agência Brasil tentou entrar em contato com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) para buscar posicionamentos sobre os desafios da educação física no Brasil, mas não obteve retorno.