No último domingo (3), São João do Piauí perdeu uma de suas figuras mais ilustres: Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nêgo Bispo, faleceu aos 64 anos de idade, vítima de uma parada cardiorrespiratória, conforme anunciado pela sua família através das redes sociais. O velório acontece hoje (4), em sua residência na comunidade quilombola Saco Curtume, atendendo ao desejo do próprio Bispo.
Nascido em 1959 no Vale do Rio Berlengas, Bispo, que completaria 64 anos em breve, destacou-se como o primeiro membro alfabetizado de sua família. Apesar de formalmente ter concluído apenas o ensino fundamental, Bispo foi reconhecido como um dos mais proeminentes intelectuais quilombolas do Brasil. Autor de obras significativas, como “Quilombos, modos e significados” (2007) e “Colonização, Quilombos: modos e significados” (2015), além de vários artigos e poemas, ele contribuiu de forma notável para a compreensão e preservação da cultura e identidade quilombola.
O ativismo de Bispo também deixou uma marca indelével. Membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Bispo foi lembrado pela Conaq como “uma voz singular e significativa no âmbito da literatura e do pensamento quilombola.”
A notícia do falecimento reverberou nas esferas políticas e sociais, com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra destacando a importância de seu legado. Autoridades federais, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, lamentaram a perda de um “importante intelectual quilombola” e enfatizaram a contribuição inestimável de Nêgo Bispo para a cultura nacional.
O jornalista e professor Richard Santos, da Universidade Federal do Sul da Bahia, ressaltou a contribuição “incomensurável” de Bispo, destacando sua capacidade de conectar diferentes mundos e saberes, especialmente no âmbito da contracolonização. “A originalidade de Nêgo Bispo resulta de ser um intelectual orgânico, oriundo dos movimentos sociais, capaz de fazer um diálogo que foge ao academicismo e atinge tanto leigos quanto acadêmicos”, concluiu Santos, evidenciando o impacto duradouro do legado deixado por Antônio Bispo dos Santos.