O sonho de viajar e o investimento de milhares de reais. Pelo menos 95 pessoas, no Ceará, viram isso se transformar em pesadelo e prejuízo. Levantamento realizado pelo Sistema Verdes Mares, junto a esse grupo, calcula que uma agência de turismo – que fechou as portas – causou um rombo superior a R$ 500 mil.
A JPE Turismo surgiu em 2014 e, até o ano de 2018, divulgava um modelo diferente de vender pacotes de viagem, com menos burocracia. Em janeiro deste ano, um grupo de 70 pessoas, com viagem marcada para Buenos Aires, na Argentina, descobriu na véspera da viagem que a empresa não repassaria as passagens e os vouchers do hotel. No dia 27 de março último, 25 pessoas que iriam para o Rio de Janeiro foram surpreendidas, já no Aeroporto de Fortaleza, com a falta de pagamento das passagens pela agência.
A repercussão do golpe alertou outros clientes, que estão com viagens marcadas para destinos nacionais e internacionais. Uma fisioterapeuta, que preferiu não se identificar, conta que se acostumou a viajar com a empresa. “Como as outras viagens aconteceram, eu comprei mais dois pacotes, um para a Europa e outro para o Rio de Janeiro. Quando eu vi as notícias no jornal, tentei entrar em contato via WhatsApp e telefone, e ninguém me atendia. Então, fui em várias lojas, e todas haviam sido fechadas”, contou.
A JPE tinha sedes em Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Itapipoca, Maracanaú, Juazeiro do Norte, Quixadá e Baturité, no Ceará; além de filiais em Natal (RN), Recife (PE), Salvador (BA), João Pessoa (PB) e Teresina (PI).
As viagens estão marcadas apenas para julho e setembro deste ano, mas a vítima acredita que não irão se concretizar e já procurou a Polícia Civil. Ela estima que terá um prejuízo de R$ 10 mil.
Um homem que gastou R$ 9 mil em um pacote para a Europa, previsto para este mês de maio, reclama da falta de respostas dos proprietários da JPE Turismo. “Tento todos os contatos e não consigo. Não quero mais ir a essa viagem, quero é meu dinheiro de volta”, reivindica.
A reportagem apurou ainda que um casal que viajou para a África do Sul, com um pacote da empresa, em março deste ano, ficou no aeroporto sem a passagem de volta para a capital cearense e teve que desembolsar R$ 7 mil por conta própria. No ano passado, um grupo que estava em Paris ficou sem hospedagem e uma agência francesa, parceira da JPE na recepção dos cearenses, teve que arcar com o custo de R$ 64 mil. Cerca de 50 vítimas da empresa já procuraram a Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF).
“Nós tivemos uma procura considerável de pessoas que vieram à Delegacia para registrar os Boletins de Ocorrência. Com essas pessoas, instauramos nove inquéritos. Procuramos separar os inquéritos por tipo de excursão. O titular da empresa já foi ouvido e indiciado”, aponta o titular da Especializada, delegado Jaime Paula Pessoa Linhares.
A reportagem procurou os responsáveis da empresa, mas as ligações não foram atendidas. Já os clientes revelaram que conseguiram falar com os donos da agência, mas os mesmos alegaram que a empresa faliu e que as dívidas seriam resolvidas na Justiça.