A Americanas S.A., uma das maiores empresas de varejo do Brasil, divulgou um comunicado nesta quarta-feira (14) revelando detalhes chocantes de fraudes contábeis no valor de R$ 25,3 bilhões. Segundo a empresa, os lucros foram manipulados para inflar os resultados, pagar acionistas, aumentar o recolhimento de impostos e obter linhas de financiamento.
As irregularidades incluíam a criação de contratos artificiais de Verba de Propaganda Contratada (VPC), que atingiram o valor de R$ 21,7 bilhões até 30 de setembro de 2022. Além disso, outros R$ 3,6 bilhões foram obtidos através do não lançamento de juros sobre operações financeiras.
O Balanço Patrimonial da Companhia, divulgado em setembro do ano passado, também apresentou outras irregularidades. Houve uma contabilização inadequada da contratação de operações de financiamento de compras e capital de giro, no valor total de R$ 20,6 bilhões, o que resultou em uma redução artificial da dívida financeira bruta.
Na última terça-feira (13), a Americanas emitiu um comunicado admitindo pela primeira vez a ocorrência das fraudes e acusando ex-diretores de envolvimento. O ex-CEO Miguel Gutierrez, os ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes foram responsabilizados nominalmente.
No mesmo dia, o atual CEO da empresa, Leonardo Coelho Pereira, prestou depoimento na CPI que investiga o caso. Pereira revelou indícios de participação das auditorias KPMG e PwC nas irregularidades, ao amenizarem as análises dos balanços financeiros. Ele também afirmou que o Conselho de Administração da empresa não tinha conhecimento das dívidas, e que a receita inflada artificialmente estava registrada em uma planilha de acesso restrito à diretoria-executiva.
Essas revelações abalam ainda mais a situação da Americanas, que já estava em processo de recuperação judicial desde janeiro, com uma dívida declarada de mais de R$ 40 bilhões. As fraudes contábeis, inicialmente apresentadas como “inconsistências contábeis”, agora são expostas como uma grave fraude.
Um plano de recuperação foi apresentado em março, porém foi rejeitado em maio. O plano propunha um aumento de capital de R$ 10 bilhões, contando com a participação dos acionistas de referência Marcel Telles, Beto Sicupira e Jorge Paulo Lemann, sócios da 3G Capital. Esses bilionários, mesmo após a venda de parte de suas ações, permanecem como os maiores acionistas individuais da empresa.
O escândalo das fraudes contábeis na Americanas S.A. abala o mercado e coloca em questão a integridade do setor empresarial, além de levantar dúvidas sobre a responsabilidade das auditorias envolvidas. O desdobramento dessa crise financeira e a busca por soluções serão acompanhados de perto pelos acionistas, órgãos reguladores e pela sociedade como um todo.